quinta-feira, 29 de maio de 2008

1968: O ano que não terminou – Zuenir Ventura

O livro 1968: O ano que não terminou, do jornalista Zuenir Ventura, é uma reconstituição detalhada do ano 68 no Brasil. Foi uma época de heróis e carrascos, de derrotas e vitórias, lutas por liberdade e igualdade. Mulheres e negros lutavam pelos seus direitos civis. Além disso, manifestações estudantis tomavam as ruas. Os estudantes entravam em combate com militares na busca por uma série de mudanças. O ano de 1968 tornou-se um ano marcante porque foi o ponto de partida para uma série de transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, que afetaram as sociedades da época de uma maneira irreversível.

Começando pelo Réveillon de 1967 até a decretação do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968, o autor relata os rumos que mudaram a história daquele ano, e conseqüentemente as trajetórias políticas e culturais do país no ano de 1968. O livro contém entrevistas com os envolvidos e um estilo literário desprendido de mágoas das vivências que Zuenir sofrera quando preso.

O réveillon promovido pelo casal Luís-Heloísa Buarque de Hollanda abre o livro de Zuenir Ventura. Porém, a festa denunciava um clima de fim dos tempos. À certeza de que 1968 não seria um ano como os outros, se unia a compulsão de aproveitar cada segundo de vida. Como exemplo disso, Zuenir relata em seu livro, que a sexualidade passou a ser uma forma de protesto. O prazer de experimentar coisas novas fez casamentos tradicionais desmoronarem. Foi o simples prazer de arriscar, de se aventurar, que mudou a concepção de várias pessoas. A revolução sexual foi mais uma explosão de vontades e intenções do que realizações. De certa forma, o sexo estava se tornando banal, as mulheres da época utilizavam pílulas anticoncepcionais, como se fossem camisinhas.

O autor, que é dono de um crônico bom humor, deixa o mesmo de lado em algumas passagens. Zuenir descreve violências que, de tão cruéis, chegavam a ser intoleráveis. Situações inacreditáveis ocorridas naquele ano inesquecível. Como, por exemplo, o episódio do seqüestro do teatrólogo Flávio Rangel por grupos paramilitares. Em uma dependência da Marinha, depois de ter tido os longos cabelos encaracolados cortados, Flávio é forçado por um de seus carcereiros a lamber o chão da cela que estava. Ou a cena em que policiais tentam obrigar um casal de atores da peça “Roda Viva”, a consumar no meio de um matagal, o ato sexual simulado no palco.

O livro de Zuenir Ventura confirma uma das muitas singularidades do 1968 brasileiro. Trata-se de um dos raríssimos momentos de confronto cuja história é contada não pelos vencedores, mais pelos vencidos. É um retrato fiel do momento, que mostra as falhas e os exageros da época. Relata da ascensão à queda e, por fim, o desfecho do fatídico 13 de dezembro.

Naquele ano, além da luta política, ocorreu um duelo entre o velho e o novo. Compositores como Chico e Caetano, cineastas como Gláuber Rocha, pensadores como Tristão de Athayde, todos derrotados em 1968, esses ficaram. Já quase todos os vitoriosos se perderam na poeira acumulada em apenas duas décadas.

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